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Em 1 Timóteo 4.16, o principal expoente do cristianismo
depois do Senhor Jesus aconselha: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina;
persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo
como aos que te ouvem”. Sabemos que somos limitados, frágeis. Não existem
supercrentes. Precisamos cuidar de nossa vida, em todos os sentidos, para
também podermos ter cuidado da doutrina.
Muitos começam bem, mas não perseveram. Devemos, dia após
dia, ter cuidado de nós mesmos e também da doutrina. Mas temos sabido,
perplexos, de casos de suicídio de pastores. Neste artigo, a partir desse
conselho da Palavra de Deus por meio do apóstolo Paulo, abordarei a perigosa
síndrome de burnout, que tem acometido muitos pastores, a qual tem levado
muitas pessoas ao suicídio.
O que é a síndrome de burnout?
O termo “síndrome” (gr. syndrome, “concurso”, “reunião
tumultuosa”) designa um conjunto de sintomas, que podem ser físicos, psíquicos,
de comportamento etc. De acordo com a medicina, trata-se do conjunto de sinais
e sintomas observáveis em vários processos patológicos diferentes e sem causa
específica.
Em inglês, burnout é uma expressão formada por: burn
(queimar) e out (fora). A união desses termos significa: “ser consumido pelo
fogo”, “esgotar-se”, “ter o combustível todo consumido”. Uma ilustração para
isso é o fósforo ou a vela se apagando. Outra: o combustível de um tanque que
se esvazia. Síndrome de burnout designa a síndrome decorrente da exaustão
emocional humana; ou seja, uma condição em que a pessoa tem suas energias
consumidas.
Burnout é uma síndrome depressiva, um estado de estresse
extremo que pode levar ao suicídio. Estresse pode ser comparado a um elástico
esticado, mas, no caso da síndrome de burnout, esse elástico se estica, mas não
volta ao normal; perde-se a elasticidade. Essa síndrome, relacionada
especialmente com o esgotamento profissional, também é conhecida, em espanhol,
como síndrome de quemarse por el trabajo. Trata-se de um distúrbio psíquico
descrito em 1974, nos EUA, por um psicólogo judeu nascido na Alemanha: Herbert
J. Freudenberger. Sua principal característica é o estado de tensão emocional e
estresse crônicos provocados por condições de trabalho físicas, emocionais e
psicológicas desgastantes.
Quais são as profissões mais sujeitas ao burnout? Essa
síndrome se manifesta especialmente em pessoas cuja profissão exige envolvimento
interpessoal direto e intenso, das áreas de educação, saúde, assistência
social, recursos humanos, bem como agentes penitenciários, bombeiros, policiais
e mulheres que enfrentam dupla jornada etc., além dos pastores, em evidência
neste artigo.
Há três tipos de esgotamento associados à síndrome de
burnout. O primeiro é o físico, que consiste em baixa produtividade, fadiga
crônica, fraqueza, cansaço, propensão a acidentes, aumento na suscetibilidade a
enfermidades, enxaquecas frequentes, náuseas, tensão muscular e mudanças
globais nos hábitos alimentares e de sono.
O segundo tipo é o emocional, que diz respeito a sentimentos
de depressão, desesperança, impotência; perda dos mecanismos de luta e
controle; tendência a exageros; sentir-se emocionalmente depauperado,
irritável, nervoso. E o terceiro é o mental, que abarca desenvolvimento de
atitudes negativas em relação ao trabalho, à vida e a si próprio; baixa
autoestima; sentimentos de inadequabilidade, inferioridade e incompetência;
desenvolvimento de atitudes negativas e pejorativas voltadas aos colegas de
trabalho.
Principais sintomas do burnout
São muitos os sintomas de ordem física: dor de cabeça
constante; enxaqueca; cansaço (pessoa já levanta da cama cansada); sudorese;
palpitação (batimento acelerado ou irregular do coração); pressão alta (afeta
órgãos vitais); dores musculares (parece que a pessoa levou uma surra);
insônia; vulnerabilidade a enfermidades etc.
Os sintomas mais evidentes são de ordem comportamental:
apatia, ira, ressentimento, desilusão, cinismo, pessimismo e baixa autoestima
frequentes. Estes se manifestam por meio de atitudes, como: aversão aos membros
da congregação, acusando-os por problemas pessoais; rígida resistência a
mudanças; não envolvimento com os membros da congregação; afastamento dos
outros; retração em si mesmo; isolamento; fuga aos contatos sociais com os
membros da congregação.
Há muitos outros sintomas: enfado, frustração, perda de
entusiasmo; ausência do gabinete pastoral e do trabalho diário; mudanças de
igrejas (mudança de emprego); aumento dos conflitos matrimoniais e familiares;
mau humor às expensas dos outros; mudanças bruscas de humor; irritabilidade;
agressividade; dificuldade de concentração; lapsos de memória constantes; perda
da flexibilidade emocional e da capacidade de relaxar e planejar; ansiedade; e
depressão, que resulta em falta de vontade de viver e propensão ao suicídio.
Males do esgotamento pastoral
Na mídia, fala-se muito do burnout empresarial (no âmbito
profissional), causado pela exploração por parte do empregador. A falta de
respeito e dignidade com que é tratado o trabalhador, somado ao baixo
investimento pelas empresas com o objetivo de proporcionar ao empregado um
ambiente laboral equilibrado e saudável tem sido um importante fator desencadeante
dessa síndrome. Isso principalmente quando a pessoa é exposta a uma alta carga
de estresse emocional, o que produz um processo de sofrimento com consequências
na sua saúde mental.
Ainda se fala pouco sobre o perigoso burnout ou esgotamento
pastoral, isto é, na esfera eclesiástica. Mas temos ouvido falar de pastores
cometendo suicídio, inclusive no Brasil. Nos Estados Unidos, membros do
clericalismo estão sofrendo mais que a maioria dos americanos de obesidade,
hipertensão e depressão, outra realidade, mas lança luz sobre nossas
necessidades.
Em 2010, uma pesquisa sobre esgotamento pastoral — feita
pelo Pastor Burnout Statistics, publicada no New York Times (1/8/2010) —
alarmou as igrejas norte-americanas. Constatou-se que, nas últimas décadas, tem
aumentado nesse grupo o uso de antidepressivos, enquanto sua expectativa de
vida tem caído. Muitos trocariam de trabalho se pudessem. Os dados dessa
pesquisa são os seguintes, acompanhados de algumas notas deste articulista.
13% dos pastores em atividade estão divorciados. O que causa
o divórcio? Ninguém pensa em divorciar-se quando casa. Há vários fatores, e um
deles é a vida estressante. 23% dos pastores deixaram ou foram pressionados a
deixar suas igrejas pelo menos uma vez em suas carreiras. Sentem-se altamente
pressionados. 25% deles não sabem a quem procurar quando têm um conflito
familiar, pessoal ou outra questão qualquer, a despeito dos milhares de amigos
nas redes sociais. Na era da interatividade, nos contentamos com milhares de
amigos virtuais, com quem não podemos contar.
25% das esposas de pastores veem o horário de trabalho do
marido como uma fonte de conflito. Quanto tempo temos passado na igreja? 33%
dos pastores sofrem com síndrome do burnout dentro de seus primeiros cinco anos
de ministério. 33% deles dizem que estar no ministério é um perigo para sua
família. Pensemos em nossa realidade: violência, perigos nas estradas, falta de
cuidado com a saúde etc.
40% dos pastores e 47% dos seus cônjuges sofrem de estresse
devido aos horários frenéticos, e/ou expectativas irrealistas que pesam sobre
eles. 45% das esposas de pastores dizem que o maior perigo para eles e suas
famílias é físico, emocional, mental, espiritual e burnout. 45% dos pastores
dizem que eles já experimentaram depressão ou esgotamento físico quando
precisavam tirar um líder de seu ministério.
50% sentem-se incapazes de atender às necessidades do
trabalho. Temos a tendência de espiritualizar tudo, mas devemos levar a sério o
sentimento das pessoas. 52% dos pastores dizem que eles e seus cônjuges
acreditam que estar no ministério pastoral é perigoso para o bem-estar de sua
família e de sua saúde. 56% das esposas de pastores dizem que seus maridos não
têm amigos íntimos. Às vezes, nos isolamos para ter mais privacidade; mas isso
também ocorre por falta de amigos de verdade. 57% deixaria o pastorado se eles
tivessem outro lugar para ir ou alguma outra vocação/profissão para se
sustentar.
70% não têm amigos íntimos. Richard D. Dobbins menciona, em
O Pastor Pentecostal, livro da CPAD (TRASK, 1999), o caso de um pastor
solitário que resolveu visitar o confessionário de uma igrejinha católica do
interior dos EUA para poder se abrir com alguém que não zombasse de sua
condição. 75% relataram sobre o burnout causando angústia, preocupação,
perplexidade, raiva, depressão, medo e alienação.
80% dos pastores dizem que não têm tempo suficiente com seu
cônjuge. 80% acreditam que o ministério pastoral afeta negativamente suas
famílias. 90% não se sentem qualificados ou preparados para o ministério. 90%
trabalham mais de 50 horas por semana. 94% vivem sob pressão para poder ter uma
família perfeita. Grande é a pressão sobre os pastores, que são humanos e
falhos. 1.500 pastores deixam seus ministérios a cada mês devido a canseira,
fatiga, estresses, problemas de saúde e conflitos ou falha moral.
Burnout pastoral começa com estresse
Esgotamento pastoral é causado pelo estresse. “As taxas de
suicídio, divórcio, alcoolismo, depressão, ataque do coração e outras doenças
relacionadas ao estresse são hoje significativamente mais altas entre a classe
clerical. As taxas de abandono e aposentadorias precoces também são altas”
(TRASK, 1999).
O que é o estresse? Esse termo (ing. stress) era
originalmente próprio da física ou da engenharia. Referia-se a uma força severa
colocada sobre um edifício ou uma ponte. A meta era construir uma estrutura
forte o bastante para resistir o máximo de estresse.
Quais são as fontes de estresse? De modo geral, medo,
ansiedade, raiva, hostilidade, culpa e necessidade exagerada de ser querido e
aceito pelos outros são os principais agentes do estresse na vida do obreiro.
Mas também as expectativas irreais sobre a natureza do ministério, pois muitos
entram no ministério, e este não entra neles.
A vida em si é estressante; muitos de nós vivemos em cidades
de alta tensão, onde a vida é agitadíssima. Outra fonte: sobrecarga de
informações e mudanças rápidas; os modernos meios de transporte e os métodos de
comunicação estão encolhendo nosso mundo na proverbial “aldeia global”.
Sexo, violência e comprometimento moral, nesses tempos
difíceis, trabalhosos (2 Tm 3.1-5), bem como as tensões no mundo de nossos
filhos — colegas de nossos filhos fazem crescente pressão para que eles se
amoldem ao mundo (Rm 12.1,2) — são outras fontes de estresse. Mas há também
fatores ligados a forças espirituais (cf. 1 Pe 5.8,9; Ef 4.27; 6.11; 2 Tm 2.26)
e ao pecado (Tg 1.14).
Como vencer o burnout pastoral e como evitá-lo?
Como vencer a síndrome de burnout? Primeiro, o pastor
acometido desse mal deve se convencer ou se conscientizar de que está esgotado;
muitos não querem admitir que estão enfermos. Segundo, obedecendo às
recomendações dos especialistas, é preciso praticar exercícios físicos e
desfrutar de momentos de descontração e lazer. Não se deve usar a falta de
tempo como desculpa para não praticar exercícios físicos e não desfrutar
momentos de descontração e lazer.
Mudanças no estilo de vida podem ser a melhor forma de
prevenir ou tratar a síndrome de burnout. Ficar sentado prejudica o cérebro;
estudos mostram que é importante levantar-se a cada 30 minutos. Outrossim, é
importante fazermos uma avaliação da nossa vida e procurarmos ajuda de um
profissional, se necessário. O tratamento dessa síndrome geralmente inclui o
uso de antidepressivos e psicoterapia.
Temos muita dificuldade em procurar ajuda, pois admiramos
pessoas aparentemente autossuficientes e impomos sobre nós mesmos ser desse
jeito. Repetimos que somos vencedores e resistimos pedir ajuda. A
vulnerabilidade envolvida em expor aos outros a dor pessoal é extremamente
ameaçadora ao senso de individualidade da pessoa.
Enfrentamos maiores dificuldades em buscar ajuda que os
incrédulos. Tememos o que nossos colegas de ministério vão pensar sobre nós.
Proteger a imagem pastoral é o principal fator na criação da impostura que
torna a vida do ministro e de sua família artificial, isolada, solitária e
dolorosa. Vivemos muitas vezes de aparências, embora sejamos exortados a ser
transparentes (1 Jo 1.7-9; Tg 5.16).
É fundamental para o ministro que deseja evitar o
esgotamento saber priorizar. Se não atentarmos para o que é prioritário, vamos
nos estressar com coisas secundárias. “Manter as prioridades em sua devida
ordem é um dos maiores desafios que o pastor enfrenta” (Thomas E. Trask, O
Pastor Pentecostal).
Prioridade é a condição do que é o primeiro em tempo, ordem,
dignidade; preferência, primazia. A condição do que está em primeiro lugar em
importância, urgência, necessidade, premência etc. Priorizar não significa dar
atenção apenas ao que é mais urgente, em detrimento do mais importante.
Priorizar também não significa dar atenção apenas ao mais importante, em
detrimento do menos importante.
Quais são as prioridades do ministro e como cumpri-las de
modo equilibrado? De acordo com a Palavra de Deus, nossas prioridades são as
seguintes: Deus, sem deixar de dar atenção à família e ao ministério (1 Tm 4.8;
Mt 10.37; 2 Cr 15.16; 1 Sm 2.29); família, o que abarca cônjuge e filhos, sem
deixar de dar atenção a Deus e ao ministério (cf. 1 Tm 3.4,5; 5.8); e o
ministério, sem deixar de dar atenção a Deus e à família (cf. 1 Tm 4.16; 2 Tm
4.5,7,8; 1 Co 15.58).
A saúde espiritual, emocional e física do ministro é o
recurso mais vital de sua vida e vocação. Como manter-se saudável em todos os
sentidos?
Separe sua vida com Deus do seu trabalho para Deus. Uma das
maiores tentações do ministro é concentrar-se na obra, e não em sua vida com
Deus; fazemos isso, muitas vezes, porque é o nosso trabalho que as pessoas
notam. Vida devocional é prioritária. O ataque espiritual do Inimigo só pode
ser resolvido em solo espiritual. O ministro deve ser alguém de oração,
dedicado ao estudo constante da Palavra e determinado a viver de acordo com as
verdades de Deus.
Essa disciplina pessoal e as orações da igreja protegerão o
servo de Deus do esmagador estresse demoníaco. O tempo gasto no estudo da
Bíblia para pregar e na oração em seu papel como ministro não deve ser
considerado parte de seu devocional. O ministro pode ser um fracasso pessoal ao
mesmo tempo que é um sucesso ministerial. O segredo da oração é a oração em
segredo (cf. Mt 6). O sucesso na vida com o Senhor nos mantém humildes em face
dos sucessos e nos animam quando errarmos em nosso trabalho.
Desenvolva o hábito de leitura devocional da Bíblia e de
bons livros. Leia a Bíblia diariamente. Leia bons livros; muitas vezes lemos
apenas os materiais diretamente relacionados com o nosso trabalho; é importante
ler outros livros.
Dedique-se à oração particular. Oração é muito mais do que o
estereótipo de pedidos intercalados entre dois agradecimentos. Abrange ampla
gama de formas de expressão. Oração não é meditação; servimos a um Deus
pessoal; ele não é uma força impessoal presente na natureza (panteísmo). Oração
não é monólogo, ainda que, segundo a linguística, o monólogo seja dialógico,
pois, quando alguém fala consigo mesmo ou dirigindo-se a uma plateia, existe o
que fala e o que ouve.
Oração também é mais que meditação e diálogo; é uma
conversa. À luz da análise da conversação, um segmento da linguística, para que
haja uma conversa são necessários, pelo menos, dois interlocutores (Jr 29.13;
33.3). Além disso, deve haver trocas de turnos, pois há interação entre os
falantes. Isso se aplica à oração (Jr 33.3). Deus responde pela Palavra (Sl
119.105). Por meio dos dons espirituais (1 Co 12.1-7). Por meio de sonhos (Gn
28.10-17).
Ore com sua família. Os períodos de oração do casal, em
especial, não precisam ser longos, mas devem ser regulares. Nossos filhos
precisam nos ouvir orando por eles.
Pratique exercícios físicos e tenha cuidado com a
alimentação. Alguns ministros pensam que o exercício físico é um desperdício de
tempo. Se nossos corpos são o templo do Espírito (1 Co 6.19,20), a boa mordomia
do corpo é nossa responsabilidade. Consulte o médico antes de começar qualquer
exercício vigoroso. É necessário mudar o estilo de vida; diminua drasticamente
a quantidade de açúcar; corte o refrigerante.
Não tenha receio de delegar atividades. Isso implica
transferir boa parte do processo de tomada de decisões aos membros do corpo.
Mantenha um atitude positiva em relação à vida. Não
permitamos que frustrações do passado nos dominem. O modo como escolhemos ver
os fatos de nossa história pessoal é a única maneira honesta que esses fatos
podem ser vistos. Sofremos muito mais por causa do passado, que não podemos
mudar — nossas lembranças podem ser editadas pelo poder destrutivo do Inimigo
ou pela graça redentora de Deus (Gn 50.20; Fp 4.8).
Guarde sua fé. O apóstolo Paulo teve muitas desilusões, mas
não perdeu a fé. Ele se sentia só, mas não desamparado (2 Tm 4.7-20).
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