quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Exu treme terra



Desde os tempos mais remotos, a serpente desempenha um papel fundamental em todas as culturas. Associada, antes de tudo, à fonte original da vida, guarda em si grandes paradoxos, podendo significar a luz ou as trevas, o bem ou o mal, a sabedoria ou a paixão cega, a vida ou a morte.

Entre os símbolos primordiais, a serpente é aquele que mais fortemente encerra toda uma complexidade de arquétipos. Presente em todas as culturas, sua imagem mitológica assume sempre um papel fundamental, associada que está, antes de tudo, à essência primordial da natureza, à fonte original de vida, ao princípio organizador do caos, anterior à própria Criação.

A serpente guarda em si intrigantes paradoxos: se por um lado exprime uma ameaça (já que de seu veneno pode sobrevir a morte), por outro, resume no processo de renovação de sua pele todo o intrincado mistério da vida, que se atualiza em movimento rejuvenescente.

Diferentes cultos e cerimônias ritualísticas reverenciam esse réptil sorrateiro, atribuindo-lhe as mais díspares qualidades. As serpentes podem estar associadas a cultos solares ou lunares; a sociedades matriarcais ou patriarcais (quando assumem valores masculinos ou femininos); podem significar a luz ou as trevas; a vida ou a morte; o bem e o mal; a sabedoria ou seu oposto, a paixão cega; representar o falo (por seu corpo assemelhar-se ao bastão) ou mesmo a vulva (conforme se lhe parecem as escamas que a recobrem, bem como o formato de sua goela quando esta se abre para devorar sua presa). Tanto quanto as energias yin e yang expressam no taoísmo as polaridades negativa e positiva que estão por detrás de toda manifestação da natureza, os ofídios, miticamente, ocultam em si a síntese dessa dicotomia universal.

Oroboro: alusão ao processo dinâmico e transformador da vida.

Uma das figuras mais intrigantes do simbolismo alquímico, presente milenarmente em diversas culturas, é a da cobra (ou dragão) que morde o próprio rabo e opera, num movimento circular e contínuo, todo o processo dinâmico e transformador da vida. “Meu fim é meu começo”, diz a cobra nesse ato mágico de devorar-se e cuspir-se, a representar a unidade indiferenciada da vida e seu caráter divino implícito na perfeição do círculo. À serpente devorando a própria cauda, os alquimistas chamaram oroboro. Tal palavra não consta da maioria dos dicionários e, em alguns livros da Grande Obra, aparece grafada como ouroboros, principalmente na língua inglesa.

Outras fontes, menos comumente, escrevem-na uróboro. Particularmente, prefiro o termo oroboro, visto não ter sido nunca tão oportuno em nossa língua nomearmos um símbolo cuja singularidade é a de não ter começo nem fim, por meio de palavra tão especial, que pode ser lida de trás para a frente sem prejuízo sequer de sua pronúncia, transmitindo a idéia de algo que se expressa ciclicamente.

Etimologicamente, o termo tem curiosa explicação: óros, em grego, significa “termo, limite”, podendo ser também “meta, regra ou definição”; borós se traduz por boca, ou voracidade. Oroboro, então, representa aquilo que se delimita ou se atinge pela boca, e também aquilo que se define por sua própria função. Órobos, em grego, ainda significa “planta”, mais especificamente a alfarroba (fruto da alfarrobeira), uma vagem de polpa doce e nutritiva indicada no tratamento das doenças inflamatórias digestivas. O dicionário Aurélio traz para órobo o significado de “cola”, palavra que, além de se referir a outro tipo de árvore (a Cola acuminata), também pode significar “cauda”, conforme certos regionalismos do Brasil.

O mesmo termo é igualmente encontrado na língua espanhola a designar o rabo dos animais. Para orobó (só muda o acento), o Aurélio reserva o sinônimo coleira, em nova referência à aromática árvore acima citada, cujas sementes guardam extrato lenhoso de propriedades estimulantes, semelhantes à cafeína. Coincidentemente, coleira é o nome dado ao colar que cinge o pescoço dos animais, e o oroboro lembra sua forma. Além disso, nossas vísceras intestinais assemelham-se à serpente enrolada, e o aparelho digestivo como um todo (se tomado da boca ao ânus) bem desenha a serpente aprumada, prestes a dar seu bote, a devorar sua presa.

Multicolorida, venenosíssima e devoradora de outros ofídios, a cobra coral pertenceu aos magos, que receberam há muitos milênios a missão de revitalizar no plano material a tradição do arco íris sagrado.

É um símbolo mágico, que na Umbanda está representado pela hierarquia espiritual que atende pelo nome simbólico de: Caboclos e Exú Cobra Coral. Dizem os magos que quando a lei solta uma de suas serpentes mágicas, nem a própria lei consegue recolhê-la sem antes matá-la. Como a lei não mata nada, muito menos um de seus mistérios mágicos por excelência, a coral da lei, continua ativa.

É uma serpente (simbólica) que consegue anular a grande cobra negra sem ter que matá-la; apenas a devora e incorpora seu veneno nas suas listas negras, tornando-se assim, ainda mais poderosa. Todo aquele que tem uma coral à sua direita, esta sendo amparado pela lei.
E quem a tiver pela esquerda, pela lei está sendo vigiado. Este é um comentário simbólico.

A Serpente Dourada simboliza o saber puro, e tal como a coral, jamais foi recolhida à faixa celestial, pois a serpente dourada (o saber) é a única que consegue eliminar a serpente negra (a ignorância) sem sofrer qualquer contaminação.

A serpente está presente em toda a história conhecida pelo ser humano. Na bíblia, ela é a responsável por fazer Adão e Eva sucumbirem ao pecado. Analogicamente, é a responsável por impor a responsabilidade aos homens e ensinar-lhes que Deus lhes deu o livre arbítrio para escolher o caminho a prosseguir.

Exu Treme Terra, que raramente se manifesta, e que é regido pelo orixá Omulu e Obá , que forma seu triângulo de forças com nossa amada Mãe Nanã Buruquê.
  
Esse Exu é firme, aguerrido, resoluto nas ações, racionalista e circunspecto. É preciso nos seus conselhos e não são de muita conversa, quando sentem que os conhecimentos que trazem não estão sendo assimilados por seus médiuns e pelos consulentes, ele fica observando e esperando a transmutação.
  
Existe grande confusão com relação a magnitude deste Exu onde alguns chegam a confundi-lo com Caboclo Treme Terra, que é um Caboclo da linha de Xangô. Isto ocorre pela similaridade da nomenclatura, mas Exu Treme Terra não é um Caboclo Treme Terra virado na esquerda, o fundamento de manipulação magística e transformadora Exu Treme Terra, é o de ser um executor, pelos domínios de força do Senhor Omulu e Mãe Oba.

Sendo a própria terra, onde caminhamos e nos sustentamos, e sendo a terra geradora permanente de vida, encontramos nela a primeira grande magia de Omulu, que é a famosa força da gravidade, que atrai tudo para si, assim como também, as diversas forças dos demais Orixás formando novas conjugações.
Os desdobramentos do Senhor Exu Treme Terra se dão dentro dele mesmo.
Enquanto Pai Omulu absorve e atrai tudo a si mesmo por representar a Terra e Mãe Oba, concentrar essa mesma Terra em torno de si, Exu Treme Terra, como já diz o nome simbólico, é um Exu de descarga repelente, é onde fazendo a Terra Tremer, descarrega todas as energias contrárias, é ele quem reina num Terremoto, quando a Terra Sacudida em abalos avassaladores, tira tudo de seu caminho
Por seu tipo de energia sacudir e derrubar tudo, e sugar as energias negativas transformando-as em positivas, transmutando e transformando tudo que nela (terra) toca e entra é por isso que Ele não “vai” a outros Exus, mas os outros é que “vem” a Ele.
Sendo o Exu a comando do Senhor Omulu, Orixá este que permanece no limite entre vida e morte, também foi permitido a Exu Treme Terra domínios na saúde e doença.
Ele é um Exu da Terra, Mestre da Magia. Energia emanada por Zambi, O Criador para destruir os malefícios gerados pelas doenças ou por qualquer tipo de magia e/ou enfeitiçamento.
De Mãe Obá ele transmuta na transformação energética mágica, de toda energia produzida de forma natural, ou seja, transformador da energia natural (toda energia que seja emanada da natureza ou do nosso próprio pensamento). Ele transforma tudo e descarrega para a terra, que transforma e transmuta em energia positiva devolvendo para o astral de forma limpa.
É o único Exu que trabalha em todas as sessões mesmo que não tenha sido evocado. O Senhor da Terra Omulu envia Exu Treme Terra em ação, mesmo que não tenha sido invocado. O que reforça a importância da necessidade de nos harmonizarmos com todos os Orixás, pois eles trabalham, atuam e interagem em absoluta e total harmonia o tempo todo.
Em função de sua característica básica ser de nos trazer a consciência cármica, e ser um Exú do tempo e da lentidão, já que absorve de Mãe Oba a paralisação dos seres viciados e que precisam de transformação, ele sacode a Terra, para derrubar todas as energias que contradizem com a evolução desse ser.
A palavra chave para Exu Treme Terra é concretização. Ele nos trás o silêncio e a concentração.
Por ter como elemento a terra e ponto de fixação o Cemitério (Calunga pequena), é lá que esse Exu é o grande manipulador das forças de magia, sendo Senhor Omulu o Mestre.
As suas cores são o preto e o branco em proporções iguais.
Sua oferendas são em todos os tipos de terra, mas é no cemitério onde se concentra seu poder magístico.

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